A Turma do Yoga

(Uma historinha para sua criança)

O sol brilhava no alto do céu, aquecendo todo o Sítio Santosha. As árvores balançavam suas folhinhas em direção aos raios solares, e as flores sorriam com o início do verão.

Enquanto Vovô alimentava os porcos e conversava com os animais, Vovó preparava biscoitos caseiros deliciosos e cantarolava algumas de suas músicas inventadas, dançando pela cozinha de piso branco. De vez em quando, Vovô enfiava a cabeça pela porta da cozinha e dizia:

— Cuidado para não cair, rodopiando assim.

Vovó ria e continuava dançando, mas com um pouco mais de cuidado. Ela realmente não queria se machucar, mas sempre amou cantar e dançar. O cheiro dos biscoitos se espalhava pela casa amarela que ficava no Sítio Santosha. Lá de longe, dava para ver uma fumacinha suave saindo da chaminé. Nada parecia perigoso, eram apenas as várias comidas que Vovó fazia para alimentar a todos — era o jeito dela de mostrar amor.

Já Vovô tinha um jeito diferente de demonstrar afeto — ele construía coisas. Como a casinha de madeira que havia em cima de uma árvore. 

Toda a energia do verão parecia habitar no Sítio Santosha, e Bento conseguia ver tudo isso de dentro do carro que o levava para a propriedade dos avós. No entanto, nada parecia ser suficiente para desmanchar a cara emburrada do menino.

— Ah, Bento! Vai ser legal! — disse sua mãe, dando uma olhada pelo retrovisor.

Bento fechou ainda mais a cara.

— Eu já tô perdendo o primeiro combate — reclamou.

— O videogame vai estar lá o ano todo, filho. As férias não, essas passam rápido e você vai perder tudo se ficar isolado no quarto jogando — disse a mãe enquanto abria a porta do motorista.

— Quando eu voltar, as aulas já vão ter começado, e eu não vou poder mais jogar porque você vai me mandar estudar.

— Sem chance! Eu sempre deixo você jogar uma horinha — respondeu ela sentindo o aroma de biscoitos caseiros e outras guloseimas que a Vovó estava preparando. — Acho que sua avó está preparando aqueles biscoitos que você adora, só para te receber. Não seja mal-educado, Bento — disse ela quando o cachorro Pimpolho pulou em cima dele.

Bento olhou para baixo e viu o rabinho cor de caramelo mexendo enquanto o cão latia e dava pulinhos tentando lamber a cara do garoto. Bento tentou colocar um sorriso no rosto quando viu o Vovô chegando. O Vovô usava o macacão velho e surrado de sempre. Bento se perguntou se ele possuía outras roupas além do macacão velho e surrado. Talvez o Vovô tivesse um guarda-roupa cheinho de macacões velhos e surrados.

— Meu neto e minha filha! — cumprimentou o Vovô, com aquele sorrisão lindo no rosto e os braços abertos.

Bento e sua mãe se olharam e não resistiram. Correram em direção ao abraço convidativo do Vovô. Receberam beijos e cafunés, acompanhados de lambidas do cachorro Pimpolho, que não dispensava um momento de alegria.

— Já chegaram? — ouviram a pergunta vindo da cozinha.

Bento olhou por baixo do braço do avô e viu sua avó, usando uma de suas roupas engraçadas e confortáveis que pareciam pijamas. Bento abriu um largo sorriso vendo a Vovó lamber os dedos cheios de massa de biscoitos caseiros. Por um momento, o garoto esqueceu completamente do videogame e percebeu como estava com saudades de passar as férias ali no Sítio Santosha.

— Já está com saudades da cidade? — indagou Vovô soltando o neto do abraço apertado.

Não demorou nada para Bento lembrar do videogame novinho que mal teve tempo de inaugurar. Amuado e com as mãos nos bolsos, Bento caminhou em direção a Vovó, que fazia sinal de “vem cá” com a mão. O cachorro Pimpolho não compartilhava daquele desânimo do garoto, pois caminhava ao lado de seu amigo humano saltitando, dando giros e latindo.

O cachorro Pimpolho sempre esteve presente em todas as férias que Bento passou na casa dos avós. Ele não lembrava de nenhum ano em que aquele cachorro magricelo e caramelo não estivesse presente, e Pimpolho não desgrudava um minuto sequer de Vovô, mas, quando Bento chegava, ele passava a ter toda a atenção do canino.

— Que cara é essa, meu amor? — perguntou Vovó, puxando a ponta de um dos cachinhos de Bento, só para vê-lo desenrolar e enrolar de volta, como uma molinha cor de café.

Bento abriu um sorriso pequenininho e aproveitou o dengo da avó para choramingar:

— Eu queria estar em casa jogando videogame!

— E me deixar cheia de saudades? — retrucou Vovó, fazendo cara de choro.

— Só esse ano, vó, ano que vem eu viria como sempre. Só queria ficar em casa esse ano.

— Não acredito que um monte de jogos seja mais legal que eu — dessa vez ela apelou para o beicinho e Bento soltou um risinho.

— Não é isso, vó, é que…

— BENTOOOOOOOOOOOO!!!!! — braços abertos corriam em sua direção acompanhados de dentinhos pronunciados e cachos dançantes. Toda a lembrança do videogame ficou para trás.

Compartilhe :
Picture of Cristiana Ferreira
Cristiana Ferreira

Psicóloga, especialista em sexologia, yoga e mindfulness

Newsletter

Receba dicas e recursos gratuitos diretamente na sua caixa de entrada,

Postagens mais recentes

plugins premium WordPress